ATA DA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 30.03.1989.

 


Aos trinta dias do mês de março do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Segunda Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura em comemoração à Semana de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e sete minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidade presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Prof. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Ver. Clóvis Brum, Líder do PMDB, representando o Governador do Estado; Dep. Raul Pont, representando a Assembléia Legislativa do Estado; Tenente-Coronel Murilo Caldeira, representando o Comando Geral da Brigada Militar; Ver. Lauro Hagemann, 1o Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Wilson Santos, em nome da Bancada do PL, falou de seu orgulho por participar da presente Sessão, alusiva ao transcurso dos duzentos e dezessete anos de Porto Alegre. Dizendo que o grau de civilidade de uma Cidade é medido pelo bem-estar da população, atentou para o alto índice de insegurança observado em nossa comunidade e apelou para o engajamento de todos os órgãos municipais com as forças estaduais na busca de melhoria dessa situação. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, salientando possuir Porto Alegre os atrativos e os problemas resultantes de um grande centro urbano, destacou ser tarefa de todos trabalhar pela transformação de nossa Cidade em um local habitável para os que nela nasceram e para aqueles que, vindos de outras áreas, muitas vezes na busca de uma vida menos miserável, a escolheram como lar. Atentou para a necessidade de elaboração, este ano, da nova Lei Orgânica Municipal. O Ver. Luiz Braz, em nome da Bancada do PTB, salientou ser Porto Alegre uma Cidade na qual vive um grande número de pessoas vindas de regiões agrícolas, na esperança de um futuro melhor, as quais, contrariamente, acabam não encontrando as condições necessárias para levar uma vida razoável. Analisou o trabalho e a função dos partidos políticos como força representativa da comunidade. O Ver. Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB, falou sobre a diversidade de grupos sociais encontrados em Porto Alegre, atentando para a importância de que através de um trabalho conjunto de toda a comunidade, sejam encontradas as soluções para os problemas que atualmente enfrenta nossa Cidade. O Ver. João Dib, em nome da Bancada do PDS, leu poesia escrita pelo Poeta Antônio Xavier Balvé, que exprime o amor daquele poeta por nossa Cidade e que representa, igualmente, o amor de todos nós pela Cidade que escolhemos para viver e que, portanto, é de nossa responsabilidade e por cujo desenvolvimento todos devemos trabalhar. O Ver. Flávio Koutzii, em nome da Bancada do PT, teceu comentários sobre as variáveis que determinam o desenvolvimento positivo de uma Cidade, dizendo que o mesmo depende da atuação dos homens que nela vivem e analisou os objetivos da Frente popular na direção da Prefeitura Municipal. O Ver. Vieira da Cunha, em nome da Bancada do PDT, fez um breve relato histórico da fundação e colonização de Porto Alegre, destacando o grande número de povoações vileiras hoje existentes no Município, cuja assistência vem representando um dos mais graves problemas para os administradores que assumem o governo. Solicitou do atual Governo Municipal uma maior atenção para essas áreas carentes. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Pref. Olívio Dutra que discorreu sobre os objetivos buscados com a organização da Semana de Porto Alegre, analisando a ideologia e a linha de trabalho a ser seguida pela Administração Popular e a importância da conscientização de cada um de seu papel de agente transformador da Cidade em que vive. Após, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo a solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem ao Salão Nobre e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e cinqüenta e oito minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanha, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene em comemoração à Semana de Porto Alegre.

Convidamos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(O Hino é executado.)

 

O SR. PRESIDENTE: (Menciona os componentes da Mesa.) Srs. Secretários e Diretores de Autarquias, Srs. Vereadores, contribuintes presentes. A Câmara Municipal, com esta Sessão Solene, reúne seus integrantes e ilustres personalidades para comemorar os 217 anos de Porto Alegre. Pretendemos fazer deste encontro uma demonstração vigorosa do amor que dedicamos a esta Cidade.

A presente Sessão caracteriza-se, também, pela presença de novos Vereadores que passaram a integrar este Legislativo, representando expressivos segmentos da população, nesta X Legislatura, inaugurada em 1° de janeiro do corrente ano, bem como do novo Prefeito, empossado na mesma data.

Porto Alegre, como de resto todas as cidades do seu porte, padece de problemas graves que afligem o dia-a-dia dos seus habitantes, mas, nesse instante de festa, não é oportuno trazê-los a este Plenário. Assim, interrompemos o debate mais acre e as deliberações rotineiras para festejar o antigo Porto dos Casais, que não é ainda a megalópole onde não é mais possível viver, mas que já ultrapassou há muito a barreira de província, onde ainda é flagrante o encanto da paisagem, o contorno dos seus morros, o abraço envolvente e carinhoso do Guaíba.

Fazemos nossas as palavras de um dos mais talentosos homens de letra que esta Cidade já produziu, Álvaro Moreyra, que sobre ela assim falou:

“Porto Alegre/ é do tamanho de minha infância;/ Porto Alegre/ cabe toda inteirinha/ dentro do meu coração...” (Palmas.)

Passamos a palavra ao Ver. Wilson Santos, pela Bancada do PL.

 

O SR. WILSON SANTOS: (Menciona os componentes da Mesa.) Demais autoridades, público em geral presente,cumpre-me usar a tribuna em primeiro lugar, nesta Sessão Solene alusiva aos 217 anos da nossa Cidade. E, por todos os motivos, e também por ser filho de Porto Alegre, nascido e criado nesta Cidade, eu me sinto envolto num grande orgulho. E quero dizer que 217 anos é uma senhora história. E não preparei um discurso, preferi arrolar uma ou duas coisas que eu entenda importante neste momento. E eu gostaria de dizer que não obstante haver um bom calendário, um bom programa, alusivo aos 217 anos que foi desenrolado e que continuará até sábado, marcando a solenização desses 217 anos, este ato também é um ato marcante. E eu também gostaria de frisar que o grau de civilização de uma cidade tem um termômetro que a mede. E o termômetro que mede o grau de civilização de uma cidade é o índice de bem-estar social e de segurança que vive uma cidade, que vive o seu povo. E eu levanto na homenagem a Porto Alegre, por incompreensível que possa parecer para alguns, mas convicto desse desejo e dessa iniciativa que me moveu, eu digo que Porto Alegre, que o povo de Porto Alegre, vive a semana de sua Cidade mergulhando numa intranqüilidade. A insegurança grassa no seio da população, e eu então estabeleci este mote. É justamente este foco que eu quero ajustar a minha ótica e a ótica do Partido Liberal. Nós temos como sinuelo, como bandeira desfraldada a liberdade, entendemos que é justamente pelo caminho do trilhar da liberdade, deste direito natural, inalienável, é que nós vamos viver mais felizes. E a liberdade, para o encontro dessa felicidade e os componentes todos dessa felicidade, têm esbarrado nesse tópico que mencionei - Segurança Pública - que está à beira de uma calamidade pública. E eu, então, numa homenagem a Porto Alegre, digo o seguinte: grau de civilidade: o índice de bem-estar que goza um povo. Eu tenho absoluta certeza de que o Poder Público, constituído desta Casa, Poder Legislativo e o Poder Executivo, estarão trabalhando unidos, engajados, num único objetivo de proporcionar esse bem-estar social. À componente Segurança Pública, eu faço, em nome do Partido Liberal, uma verdadeira súplica, uma grande reflexão, uma grande meditação, e digo uma coisa que como cidadão e como uma missão delegada, uma missão representativa, e por ser egresso do oficialato da Brigada Militar, por ser egresso da segurança pública, tenho tido inúmeros pedidos para que alguma coisa se faça, então, na comemoração dos 217 anos desta Cidade, faço um apelo não só às forças deste Legislativo, mas ao Executivo, ao nosso Prefeito Olívio Dutra para que haja um engajamento de todos os órgãos do Poder Público Municipal. Como Chefe dessa família, Prefeito Olívio Dutra, que comemora 217 anos, permita que haja um engajamento, como um verdadeiro conselho de segurança pública, de todos os órgãos municipais, para se integrarem, para se somarem às forças estaduais, porque a mim me parece que não é por culpa do atual Prefeito nem de outros Prefeitos que passaram no decorrer de 217 anos, mas tenho convicção de que o governo municipal é um ilustre omisso em segurança pública, não há envolvimento e, aqui, o Partido Liberal, nesta homenagem, faz este apelo. Talvez seja o momento de o Poder Público Municipal engajar-se junto com o Departamento de Polícia Metropolitana, que é um órgão do Estado, que está incrustado em Porto Alegre só para lutar por segurança pública. Soma-se ao Deptº de Polícia Metropolitana o Comando de Policiamento da Capital, hoje representando, inclusive, o Comando Geral da Brigada Militar na pessoa do Cel. Murilo. O Comando de Policiamento da Capital é outro órgão estadual que atua dentro do Município para proporcionar segurança pública aos moradores de Porto Alegre. Peço, então, que se una o poder público, Legislativo e, especialmente, Executivo para que o maior presente que possamos dar nesses 217 anos de vida de Porto Alegre seja a segurança pública. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:Concedemos a palavra ao Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Menciona os componentes da Mesa.) Srs. Secretários, Diretores de Autarquias, Vereadores, senhoras e senhores. Falo, talvez, em nome daqueles que não tenham nascido em Porto Alegre, mas que adotaram esta Cidade como se aqui vivessem por muitos e muitos anos, aqui construíram seus lares, constituíram suas famílias, seus filhos receberam a compreensão da cidadania porto-alegrense e hoje alguns até estão nesta Casa representando parcelas desta cidadania. Nem por isso nós, que somos oriundos de outras plagas, juntos com aqueles que aqui nasceram e que devem se orgulhar desta condição, nem por isso o nosso amor, a nossa dedicação a Porto Alegre é menor. A Cidade nos acolheu, nos recebeu, proporcionou o nosso desenvolvimento em todos os aspectos da nossa vida e aqui, hoje, estamos nós todos reverenciando os 217 anos de Porto Alegre, uma história não tão longa quanto a de outras cidades deste País. Porto Alegre é a capital mais austral do Brasil e uma das últimas que foi constituída por obra da colonização, uma Cidade que merece o esforço que nós todos estamos dedicando para que ela se transforme no lugar de vida de todos aqueles que a escolheram para sua residência, para sua convivência social. É verdade que, mesmo com modestos 217 anos Porto Alegre hoje se apresenta como uma Cidade moderna, com alguns dos atrativos das cidades grandes e com muitos percalços da cidade grande, com as dificuldades da cidade grande. Essa é uma tarefa que nós Vereadores, Prefeito, Vice-Prefeito, Secretários Municipais, estamos tendo nos contatos diários. A nossa tarefa é superar essas dificuldades e tornar a Cidade habitável para todos aqueles que aqui vivem. Porto Alegre não é só o casario imponente que vislumbramos no Centro da Cidade, Porto Alegre é, sobretudo a periferia pobre. Porto Alegre é também essa massa enorme de pessoas que vêm tangidas do campo por falta de uma política agrícola, por falta de uma Reforma Agrária, engrossando as correntes de pauperismo e conseqüentemente até de criminalidade. Uma corrente migratória que nós, dirigentes da Cidade não podemos estancar, ela é superior às nossas forças e provém de uma outra estrutura que nós podemos denunciar, combater, mas não podemos resolver. Essas populações pobres, miseráveis, tangidas dos mais variados lugares do Estado vêm ocupar na Cidade Grande um lugar. Vêm exigir da Prefeitura coisas que a Prefeitura, às vezes, não pode lhes dar.

Este ano nós teremos a ingente tarefa, esta Casa, de dar à Cidade, ao Município de Porto Alegre, uma nova Lei Orgânica. Tomara que a nossa capacidade, o nosso engenho, as nossas forças permitam que esta nova Lei Orgânica, esta Constituição Municipal possa abordar todas estas questões, porque aqui cabe uma observação muito pertinente: embora esta Casa esteja repartida entre diversas facções partidárias, esta Constituição Municipal que resultar do nosso trabalho, não poderá e não deverá refletir aspectos parciais da componência desta Casa, da Composição desta casa. Deverá refletir o conjunto de vontades da sociedade porto-alegrense. E, nós teremos que ter muita atenção para isso. Não nos deixarmos envolver por questiúnculas.

Porque, Srs. Vereadores, Sr. Prefeito, Sr. Deputado, Coronel, Senhoras, Senhores, Secretários, uma cidade não é só a Prefeitura, a Câmara de Vereadores, a Associação Comercial, a Federação das Indústrias, a cidade é principalmente a sua população, na sua forma mais heterogênea. E a Cidade está clamando, nós somos testemunhas disto, a Cidade está clamando por reformas, por uma nova visão de cidade, que beneficie não apenas alguns poucos, mas beneficie a todos. É claro que há desigualdades, mas vamos tratar de aplainá-las, para que o mínimo que se possa dar seja dado a todos e não a uns poucos.

Esta visão de cidade nova, de sociedade nova, nós temos que ter, também, a competência para entender e vislumbrar.

Daqui a pouco Porto Alegre estará entrando, como o resto do mundo no 3o milênio. E ai de nós Legisladores desta Cidade, Administradores desta Cidade quando a história vier nos cobrar o que deixamos de fazer por ela, quando poderíamos tê-lo feito.

Por isso, Srs. Vereadores, é com muita emoção que saúdo a Cidade nos seus 217 anos existência. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Luiz Braz, em nome da Bancada do PTB.

 

O SR. LUIZ BRAZ: (Menciona os componentes da Mesa.) Dificilmente eu escrevo o que vou falar, mas hoje tive medo de vir à tribuna e não conseguir expor as idéias que nós gostaríamos. Por isso, fizemos um apanhado e peço a permissão - é quase que protocolo, mas como não é meu costume - dos presentes para fazer uma leitura que vou fazer o possível para não se tornar enjoativa.

Deus produziu os campos, os vales, as montanhas, os rios, planaltos e planícies, enfim tudo o que existe na natureza e, além disto, fez a chuva e o vento, para modificar e fertilizar constantemente este cenário, a fim de que ele não se tornasse monótono e perpetuamente imutável.

Para usufruir destas maravilhas Deus fez o homem que traz um pouco do próprio Deus, pois também serve de agente para transformar a natureza, tornando-a mais receptiva às aspirações de progresso que desde os primórdios impulsionam o ser humano, em busca do aprimoramento constante.

Com a sua sede de viver e progredir, o homem comete, muitas vezes, excessos que irão comprometer as gerações futuras e exigirão destas, um esforço incomum para encontrar as soluções.

Uma cidade deveria ser um complexo demográfico formado, social e economicamente, por uma importante concentração populacional não agrícola, e dedicada a atividades de caráter mercantil, financeiro, industrial e cultural. Esse foi o pensamento externado pelo saudoso Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, ao definir o que é uma cidade.

Porto Alegre é uma cidade com todo este complexo demográfico, mas na atualidade, como todas as grandes cidades brasileiras, vive o paradoxo de atrair para dentro de seus limites, uma população originariamente agrícola, que vem atraída por uma suposta possibilidade de encontrar uma vida nova; mas que aqui chegando, visualiza um mundo hostil que não lhe oferece as mínimas condições de uma sobrevivência digna.

É o homem saindo do seu habitat natural, em busca de novas perspectivas. Ele sonha com a possibilidade do paraíso que tirará dos seus ombros o peso da responsabilidade de há tanto tempo, ser o produtor de tantas riquezas que de nada serviram para o bem-estar seu e de sua família, mas, que somaram no patrimônio de outros que aqui na Cidade, sem enfrentar os riscos advindos das eventualidades temporais, amealharam a parcela que seria importante para a sua manutenção no campo.

A surpresa que este homem tem ao chegar na cidade pode-se assemelhar a de um mal nadador que tenta encontrar suporte para os seus pés, a fim de ficar com a cabeça para fora d’água; ele tenta, mas não consegue; quer voltar, mas já é tarde; tem que aprender a nadar, mas as circunstâncias e o tempo não lhe permitem. Para ele, resta o desespero de saber que vai se debater naquela grande massa líquida, muito embora as possibilidades de encontrar uma base ou um ramo salvador, sejam remotas. Normalmente ele sucumbe; ou pagando com sua própria vida o erro de ter-se aproximado da URBE ou desnudando-se de seus valores morais mais elevados, o que faz ele e a sua família aproximarem-se da marginalidade.

É a nossa Porto Alegre com seu cinturão de miséria que vai sendo engrossado a cada dia que passa, recebendo, muitas vezes, as adesões da nossa antiga classe média, agora depauperada, sem condições de competitividade econômica e que não tem outra saída senão aquela de buscar, junto a esses migrantes, pessoas iguais na sorte ou no infortúnio.

É a nossa Porto Alegre que vive espremida entre a necessidade de parar para rever os erros e a imperatividade de não poder parar, pois ela faz parte de um contexto muito maior. Somos parte de um corpo que se encontra doente no seu todo. O mal que nos atinge afeta também outros órgãos principais da nossa estrutura. Não que sejamos apenas vítima, muito embora a síndrome seja muito mais de responsabilidade do órgão vital, que sempre procurou concentrar as substâncias essenciais sob seu controle e jamais teve sabedoria para distribuí-las, equanimente, dentro do grau de importância de um e de outro órgão. Somos, também, co-partícipes na responsabilidade do crescimento do mal que vai, aos poucos, nos devorando.

Todas as atitudes políticas que visam o engrandecimento de um Partido, muitas vezes, não se coadunam com as necessidades de crescimento racional da cidade. Isto porque o Partido não raramente vem em primeiro lugar, pois ele satisfaz a sede de conquistas e de poder que o egoísmo de cada um impõe nas ações do dia-a-dia.

Existe uma completa inversão de valores, usa-se a cidade no seu coletivo como instrumento para conquistar os objetivos buscados pelos grupos, quando na verdade, os grupos deveriam utilizar seu poder para satisfazer as necessidades da cidade como um todo ou, pelo menos, deveriam procurar os caminhos mais saudáveis para que a população pudesse aproximar-se dos seus ideais.

Presenciamos constantemente, uma idéia ser combatida não pela sua importância relativa à Cidade, mas, isto sim, pelo prejuízo que ela possa causar aos planos de um grupo ideologicamente composto. Assim acontece a aprovação de maus projetos e a rejeição de bons. A morte de boas idéias e a fertilização das más. Cito um exemplo: O Centro da cidade de Porto Alegre, sempre foi espremido contra o Rio que impede o seu crescimento. Na gestão passada, quando era Prefeito o Dr. Alceu Collares, surgiu a idéia de se fazer o chamado Projeto “Praia do Guaíba”. Era uma boa idéia, pois aproveitava uma área abandonada, ociosa. O que precisávamos era de um bom Projeto que pudesse descomprimir o Centro da Cidade e, ao mesmo tempo, conservar as espécimes da fauna e da flora ali existentes. Um Projeto que não se descuidasse da ecologia e que desse ao cidadão porto-alegrense um pouco mais de bem estar nas suas idas e vindas ao Centro ou proximidades dele.

O que se viu, na realidade, foi um debate ideológico com a confrontação de grupos que na verdade não estudavam o aprimoramento do Projeto e sim, se ele devia ou não se iniciado; uns, chamados ecológicos, querendo ver a idéia morta; outros, por interesses políticos bem evidentes, querendo impor a idéia sem uma discussão mais ampla. Quando o Projeto passou e começou a ser executado, todos puderam constatar que a idéia trazia benefícios, mas é evidente que era incompleta, pois não se pode conceber um rio tão próximo a nós, tão poluído e tão perigoso, que tem ceifado preciosas vidas de incautos que se encantam com as belezas deste estuário chamado rio.

Enquanto os interesses pessoais vão se sobressaindo, enquanto os mais fracos são massacrados pelos mais fortes, enquanto as grandes massas são utilizadas para servirem interesses das minorias, Porto Alegre vai sofrendo, vai diminuindo a qualidade de vida de cada um, alterando substancialmente os males que tomam conta do corpo da Cidade, fazendo com que haja previsões de coma brevemente.

Portanto, hoje quando homenageamos Porto Alegre, faz-se necessária uma reflexão sobre a nossa conduta perante a coletividade e perante nós mesmos. Onde estão as nossas falhas e os nossos acertos? Onde é que o nosso egoísmo está sendo maior que a nossa determinação de vivermos como humanos na face da terra? Qual é o esforço que está faltando para que possamos unir mais as correntes em busca do bem comum? Por que existe tanta vergonha de colocarmos Deus em nossas ações principais quando somos feitos à sua semelhança? Por que resolvemos ser efêmeros quando podemos ser eternos?

Para finalizar, desejo contribuir para que o PTB seja um real instrumento desta união de pessoas e de desejos; mas, enquanto este sonho não for concretizado, continuaremos a ser Uma Revolução em Marcha como certa vez afirmou Getúlio Vargas, buscando tornar os homens iguais, porque sem esta igualdade torna-se covardia alardear princípios de competitividade e de livre iniciativa quando as desigualdades de oportunidades são tamanhas. Obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Airto Ferronato, pela Bancada do PMDB.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: (Menciona os componentes da Mesa.) Sou natural do interior do Município de Encantado e quis a história que eu fosse registrado no Município de Anta Gorda. Criei-me no interior de Arvorezinha, filho de pai agricultor e mãe professora, residente no interior do interior, lembro-me que, aos 7 anos de idade, vim a Porto Alegre, pela primeira vez acompanhado pela minha vó. Um menino de sete anos, nascido e criado no meio do mato, onde não se tinha luz elétrica, sequer, lembro-me de como vi Porto Alegre pela primeira vez. Aquilo, senhoras e senhores, parecia um sonho, porque nós não tínhamos a menor idéia do que era uma cidade e conhecer Porto Alegre no seu esplendor, numa noite iluminada, era algo indescritível e a partir daí passei outra vez a sonhar em um dia vir para Porto Alegre. Quis o destino que aqui eu viesse e graças a um esforço bastante grande pudéssemos estar aqui representando a população desta nossa capital.

Fiz esta minha exposição inicial para dizer que nós temos no PMDB, o nosso querido Líder, o Ver. Clóvis Brum, homem da nossa querida Uruguaiana, a terra das planícies e da campanha. E temos no PMDB, também, o Ver. Luiz Machado, um homem nascido em Porto Alegre. Permitam-me os senhores dizer que o PMDB, assim como nós sabemos, outros partidos também, representa aqui a imagem física de Porto Alegre, os seus morros as suas planícies, o nosso rio, do Ver. Luiz Machado.

Hoje é com satisfação que reverenciamos a nossa querida Capital gaúcha, e que, com responsabilidade, representamos aqui a sua população, buscamos atender aos anseios desta população, procuramos contribuir, da melhor maneira possível, com a administração municipal, porque esta é a nossa tarefa, e assim quis o destino. Eis aqui, em resumo, a nossa Porto Alegre, a Porto Alegre da criançada, e eu sonho, e, como eu, todos nós sonhamos. Sonho com a Porto Alegre Feliz. E para que Porto Alegre seja também feliz, necessário é sonhar-se que um dia toda esta criançada, toda esta população tenha seu lar, tenha a sua alimentação, tenha a educação e, enfim, paz e felicidade.

E quando sonhamos só, o sonho é apenas um sonho, mas quando sonhamos juntos eis a realidade que começa. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. João Dib pela Bancada do PDS.

 

O SR. JOAO DIB: (Menciona os componentes da Mesa.) Srs. Secretários do Município, meus senhores, minhas senhoras, por certo o Prefeito Olívio Dutra, o Deputado Raul Pont, nosso Ver. Lauro Hagemann, Ver. Clóvis Brum, representando o Governador, e como o Governador e eu não nascemos em Porto Alegre, por certo muitos dos senhores Secretários do Município, Diretores, servidores municipais não nasceram em Porto Alegre. Mas Porto Alegre acolheu a todos nós e a ela, Porto Alegre, nós devemos sem dúvida nenhuma o melhor dos nossos esforços. Eu não sei se exatamente foi um slogan da Administração Municipal na realização desta semana de Porto Alegre, uma frase que diz: “A melhor cidade para se morar é aquela que ajudamos a construir.” Porto Alegre é uma responsabilidade nossa, nós, todos os 33 vereadores, síntese democracia da representação de todos os moradores da Cidade, temos para com ela responsabilidade, como tem o Prefeito, como tem o Governador do Estado, como tem a Brigada Militar, como tem a Assembléia Legislativa, porque Porto Alegre é um pedaço do Rio Grande, é o pedaço mais querido porque Porto Alegre é a Capital de todos os Gaúchos. Não importa se seja o Arraial de São Francisco de Porto dos Casais, Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre ou se só Porto dos Casais, mas ela é Porto Alegre, e é nossa Porto Alegre. Por certo também muitos dos presentes assistiram a longos debates no início da década de 1970, quando esta Casa trouxe historiadores que debateram para definir a data de fundação, para definir a data de colonização de Porto Alegre. Os historiadores não se entendiam. José Loureiro da Silva, o grande Prefeito desta Cidade, no dia 5 de novembro de 1940, havia comemorado, de forma grandiosa, os 200 anos da fundação de Porto Alegre onde o seu ancestral Jerônimo de Ornelas havia recebido uma carta de Sesmaria e fundava esse núcleo que hoje é Porto Alegre. Passado o tempo, os historiadores entendiam que não, que não dia 26 de março de 1772, portanto, há 217 anos, é que a Cidade passava a existir. E num debate longo e acalorado resultou a Lei do Ver. Afonso José de Revoredo Ribeiro, que fixou a data de 26 de março de 1772, não faria diferença nenhuma, uma vez que todos amam e têm obrigação para com esta Cidade. Como o Ver. Luiz Braz, eu também acho que não se pode fazer um pronunciamento de improviso numa data tão importante como esta. Eu também acho que deveria ter escrito algo, deveria ter coletado mais informações e não o fiz. Mas, o poeta Antônio Xavier Balvé, que parece ser da terra do nosso querido Ver. Clóvis Brum e do Dep. Raul Pont, que também não é de Porto Alegre, soube, numa bela poesia, expressar todo seu amor pela Cidade. E eu pediria licença para ler essa poesia, que diz o seguinte: (Lê.)

“Começo a caminhar sem rumo/ num fim de tarde/ na Porto Alegre da minha infância/ na Porto Alegre da minha adolescência/ na Porto Alegre da minha juventude/ na Porto Alegre dos meus cabelos brancos.

E não resisto à tentação que me assola/ de fazer uma declaração de amor/ à Cidade que faz parte de mim mesmo.

As ruas que conheço há muito tempo/ ruas que permaneceram iguais/ ruas que fizeram cirurgia plástica/ elevadas, ruelas, trevos, travessas,/ rótulas, túneis, perimetrais/ e outros termos do dicionário municipal.

Lugares de nomes psicodélicos,/ largos, praças, jardins, parques,/ como eu vos amo/ partes de minha Cidade/ que são partes do meu ser.

Igrejas onde rezei/ bares onde cantei/ botecos onde bebi/ escuros cantos onde chorei/ como eu vos amo!

Vou sem destino e a noite cai:/ estou alegre e triste a um só tempo,/ ancorado no Porto que foi palco/ e é retiro/ enquanto a morte já viaja no meu rumo.

Ainda me sobraram forças:/ seja lá para onde for/ que me leve a caminhada/ continuarei me declarando apaixonado/ pela Cidade que foi meu começo/ e que será meu fim.

Eu te conheço como a palma de minha mão/ como as rugas de meu rosto/ como os temores do meu coração/ como um momento de emoção/ ante a beleza do sol posto/ frente à noite nova.

E é por isso que te palmilho metro a metro/ sem a menor hesitação/ com a desenvoltura do cego em sua casa/ como o pássaro confia em sua asa/ como confia o leão, se livre.

E é por isso que te amo/ com a sinceridade que não dedico às mulheres/ porque não és mulher, por isso és fiel,/ porque me dizes coisas permanentes/ desde as mais comuns.

Tuas esquinas são pontos para encontros,/ não confluências de retas que para os poetas nada indicam./ Tuas ruas são para o passeio dos seres,/ não logradouros da algaravia municipal/ tuas praças são o elo entre os humanos onde convergem desenganos e alegrias/ onde se fundem a filosofia e o banal.

É por isso que te amo/ Porto Alegre de hoje, onde vivo;/ que não és mulher, portanto és fiel;/ mas eu não cedo ao medo nem desdenho o mel/ ainda que venha a sofrer/ ainda que depois de rir na esquina/ vá chorar na rua/ e meditar na praça/ a dormitar cachaça/ a iluminar-me a lua./ Eu te conheço como a palma de minha mão.”

O poeta consegue dizer, em poucas palavras, o seu amor à Cidade e nós não estamos, talvez, conseguindo isso. Sei que cada um dos presentes ama esta Cidade e, para que ela seja o melhor lugar que nós possamos morar, não basta que tenhamos construído a Cidade, é necessário que continuemos mantendo o crescimento desta Cidade, fazendo o melhor de nós para que ela cresça, para que a sua população seja realmente alegre e que seu nome tenha razão de ser. E é por isso que neste dia, já passada a data, estamos homenageando a Cidade, eu também vou pedir, num Projeto de Lei que encaminharei à Casa, já está sendo preparado, que o Hino da Cidade, que não tem na Câmara Municipal, que tem sido esquecido na Prefeitura e que foi oficializado no dia 24 de julho de 1984, exatamente 211 anos depois do dia em que a Cidade passou à Capital do Estado, o Hino foi oficializado através do Decreto, não tem sido tocado e tocar o Hino da Cidade é uma forma de se fazer amar a Cidade e, amando a Cidade, nós amaremos o Estado e amando o Estado faremos nosso amor à Pátria ser maior e faremos crescer Cidade, Estado e Pátria. Vou encerrar, Sr. Presidente, ainda com palavras do poeta, quando, declarando o seu amor por esta Cidade, que eu sei que qualquer Vereador faria o mesmo, ele diz: “Suas esquinas são pontos para encontro, não confluências de retas que, para o poeta, nada indicam. Suas ruas são para o passeio dos seres, não logradouros a algarave municipal, suas praças são o elo entre os humanos onde convergem desenganos e alegrias, onde se fundem a filosofia e o banal. É por isso que te amo Porto Alegre de hoje.”

E é por isso que todos nós amamos Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Flávio Koutzii, pela Bancada do PT.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: (Menciona os componente da Mesa.) Companheiro Tarso Genro, Vice-Prefeito de Porto Alegre, apesar da formalidade própria de um ato desta natureza, algo que chama atenção é o fato de que todas as intervenções que me antecederam buscam mais ou menos timidamente uma aproximação com a Cidade, que parece que passa pela palavra carinhosa com a Cidade, pela poesia, pelo discurso menos clássico do dia-a-dia. Acho que isso revela que, mesmo ultrapassando as fronteiras da formalidade deste ato, dá a ele, inundá-lo de certa maneira, uma coisa que normalmente no dia-a-dia, na rotina, se expressa pouco ou quase nada, que essa relação apaixonada e conturbada que cada um de nós tem com a Cidade. Registrar, hoje, 217 anos põe isso em evidência e interroga, certamente, se essa é uma data de velhice ou de juventude. Acho que a cidade, ao contrário dos limites, do crescimento biológico que condicionam o ser humano, depende de outras variáveis. As artérias e o sangue e o corpo e o vigor de uma cidade dependem não de uma regra incontornável do envelhecimento, mas, sobretudo, da possibilidade de inverter neste desenvolvimento e reordená-lo e evitar que cidades urbanamente harmoniosas, espaços de vida dignos e compatíveis com a condição humana, que sofreram uma imposição do crescimento econômico, da lógica, evidente, do desenvolvimento capitalista, o estrangulamento do seu equilíbrio e dos seus órgãos.

O crescimento, como foi dito aqui, da periferia de pobreza e miséria das cidades, que desequilibraram completamente a relação entre os serviços oferecidos ao conjunto da comunidade e qualidade e a quantidade em que eles são oferecidos; que transformaram pedaços da Cidade em ilhas de extraordinária degradação da condição humana e outras de extraordinário fausto; que separaram os homens e as mulheres que parecem viver não na mesma cidade mas em dois planetas diferentes; a velhice ou a juventude da Cidade, sua serenidade precoce ou sua reencontrada juventude depende de nós; depende dos homens e das mulheres que vivem nela; depende daqueles que decidem politicamente os destinos das cidades; depende da nossa vergonha, do nosso compromisso, do nosso empenho e da nossa paixão.

Como representante do Partido dos Trabalhadores, como representante, também, da força principal que hoje ocupa o governo da Cidade, a constatação das imensas dificuldades, a constatação de barreiras extremamente importantes, não nos desanima. A paixão que nós tivemos para construir o movimento político, profundamente ligado aos interesses da sociedade brasileira está hoje a serviço desta Cidade. E essa vontade de fazê-la profundamente humana, profundamente igual, essa é a nossa mais profunda declaração de amor à Cidade. Muito obrigado. (Palmas.)

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Vieira da Cunha, pela Bancada do PDT.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: (Menciona os componentes da Mesa.) Tenho a honra de ocupar esta tribuna, para em nome da Bancada do PDT, pronunciar-me nesta Sessão Solene comemorativa à Semana de Porto Alegre, e o faço no dia 30 de março, coincidentemente, a mesma data em que a história registra a concessão da primeira Sesmaria dentro da área do atual Município de Porto Alegre.

Foi em 30 de março de 1736, há 253 anos, quando Sebastião Francisco Chaves recebeu a sua Sesmaria, uma área de terra devoluta com cerca de 3 léguas de comprimento por 1 de largura, entre o arroio Dilúvio e o arroio Cavalhada, com sede no morro São José.

Já em 1747, através de edital, El-Rei autorizava a saída de açorianos para povoarem o Brasil. Em 1749, os açorianos chegavam a Santa Catarina e só em 1752 eram transferidos para a Comandância de São Pedro do Rio Grande do Sul.

A 26 de março de 1772, foi criada a freguesia de São Francisco de Porto dos Casais. A freguesia era a base de qualquer núcleo urbano, que poderia se transformar em conselho comunal, ou Município. Apesar da controvérsia, esta é a data hoje aceita como de fundação da nossa Cidade: 26 de março de 1772 - há 217 anos, portanto.

Mas foi a partir da década de 1920 que o crescimento urbano de Porto Alegre aumentou de ritmo, trazendo o conseqüente e conhecido problema do êxodo da população rural, que passou a formar as vilas da periferia, sem infra-estrutura urbana.

São os denominados cinturões de miséria, tão típicos das grandes cidades do sistema capitalista.

Porto Alegre não foge à regra. Vários núcleos urbanos formam as mais de 200 vilas da nossa capital, com uma população estimada de 326.000 pessoas.

Só nesta década, a população vileira de Porto Alegre cresceu 10%, chegando já a 25% do total de habitantes.

Este é o quadro que desafia as sucessivas administrações municipais: dotar este imenso contingente populacional de condições mínimas de dignidade. Uma moradia decente, saneamento básico, saúde e educação são direitos fundamentais da pessoa humana.

A nós, do PDT, coube a responsabilidade de dirigir esta Cidade nós últimos 3 anos. Coerentes com nossa proposta, procuramos desenvolver projetos que atendessem as regiões mais desassitidas.

Mutirões populares foram realizados nos núcleos urbanos da periferia, onde a própria comunidade decidia as obras e serviços prioritários, cabendo a ela fiscalizar a sua execução. CIEMs foram erguidos, com a finalidade de propiciar à criança pobre uma educação nova e libertadora, com ampla assistência médica e alimentar.

Temos consciência do dever cumprido.

E é esta consciência do dever cumprido que nos dá autoridade política para cobrar da atual administração mais atenção para a nossa querida Porto Alegre.

É verdade que são apenas 3 meses de governo petista. Mas á também verdade que foram 3 meses difíceis para a população. Transporte coletivo sob intervenção e desorganizado, aumento de tarifas em pleno período de congelamento, obras paralisadas, iluminação pública deficiente e praças e parques descuidados são realidades que temos até o dever de apontar, em nosso papel de fiscalizadores dos atos do Executivo.

Entretanto, estamos em uma semana comemorativa. Amamos esta Cidade. Não nos interessa - a nenhuma de nós - o caos. O que queremos é viver em uma Cidade cada vez melhor e mais organizada.

Uma Cidade em que os desníveis sociais sejam eliminados. Em que a miséria e o analfabetismo sejam erradicados. Em que haja transporte coletivo eficiente e barato. Em que a educação esteja ao alcance de todos.

Uma Cidade iluminada e sem medo. Com saneamento básico estendido às vilas. Com praças e parques limpos e bem cuidados. Com o Rio Guaíba devolvido à população. Dirão que estou sonhando. Que sou utópico. Mas é preciso sonhar, querer e organizar. É preciso lutar.

Todos nós, cada um na sua função, para a qual fomos eleitos pela população de Porto Alegre. Quem sabe não estejamos tão longe desta Porto Alegre que queremos. Porque esta Porto Alegre que queremos será realidade, não tenho dúvidas. Será realidade assim que consigamos alterar radicalmente este modelo capitalista injusto e marginalizante. Assim que consigamos - com o povo organizado e consciente dos seus direitos - construir a pátria socialista. Viva o socialismo no Brasil! Viva a igualdade! Viva Porto Alegre! Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao ilustre Prefeito Olívio Dutra.

 

O SR. OLÍVIO DUTRA: (Menciona os componentes da Mesa.) Companheiros Vereadores, companheiras e companheiros presentes, nós, nesta Sessão Solene, que a homenageia os 217 anos da nossa Cidade, queremos registrar aqui a palavra da Administração Popular. O Governo da Frente Popular, constituído pelo PT, PCB, PSB com o apoio do PSDB e agora, também, o PC do B, tem a honra de organizar esta 30ª Semana de Porto Alegre, e a organizamos com a visão de que a Cidade tem que ser apropriada pelos seus habitantes, fruída por todos nós, que nós devemos ter prazer de viver na Cidade, mesmo no infortúnio e na desigualdade, que herdamos, não apenas da Administração passada mas de outras Administrações, e que não são características apenas de nossa Cidade, mas da estrutura capitalista, desigual e autoritária, que tem marcado o desenvolvimento social e econômico no nosso País. A organização desta semana procurou alcançar três objetivos: conhecer Porto Alegre, construir Porto Alegre e festejar Porto Alegre. Conhecer Porto Alegre na sua história, a história das gerações que construíram esta Cidade, a história das gerações que vêm sofrendo, também, as desigualdades nesta Cidade, a história dos trabalhadores, que têm dado sangue, suor e lágrimas, para que alguns poucos vivam muito bem nesta Cidade e uma grande maioria viva mal neste Porto que não é alegre para todos, é ainda alegre para muitos poucos. Conhecer Porto Alegre é conhecer também que a nossa Administração recebeu uma situação caótica na Administração Municipal, muitas mordomias, muita despesa inútil, muita prioridade que não era da Cidade mas era prioridade especial, de algumas pessoas, de alguns grupos. A Administração recebeu dívidas, não nos assustamos com isto, estamos tratando de organizar a casa e estamos tratando de desenvolver a nossa proposta de administrar do ponto de vista popular esta Cidade. Nós sabemos que administrar do ponto de vista popular a Cidade é furar esquemas tradicionais de relação da administração com o povo, com setores dominantes na Cidade. Administrar do ponto de vista popular é ferir alguns interesses, sim, é também buscar conscientizar a população nesta relação diferente com as áreas de interesse conflitado. Nós temos consciência de que este trabalho está surtindo efeito. Em cada canto da Cidade que andamos, em cada ocasião que nos encontramos com o povo organizado nós sentimos que há, na cabeça e no coração das pessoas, o sentimento de que está começando a ser sujeito das transformações da Cidade e é isto que importa. Nós não queremos ser o pai dos pobres, porque também não somos a mãe dos ricos. Nós queremos que cada porto-alegrense se sinta participante ativo na crítica, na elaboração de proposta, no trabalho, na organização popular para que a gente faça da nossa Cidade uma Cidade linda de ser vivida

É um porto, portanto, é um ponto de chegada e de partida de muitos. É um porto que tem no nome um adjetivo alegre e que nós precisamos que este nome vire substantivo na vida de cada pessoa que por aqui passa, que por aqui morre e que por aqui vive. Para nós, viver em Porto Alegre, talvez seja fácil para muitos, para a grande maioria se tomarmos o viver como uma questão de lógica. O viver é que é difícil porque significa se relacionar com os outros, com a sua própria cidade, com o seu espaço, com a sua natureza e nela se incluem os morros, os rios, o seu patrimônio paisagístico. Tudo isso vem sendo agredido há muito tempo e nós em noventa dias de Governo, talvez nem em quatro anos de mandato poderemos recuperar o patrimônio agredido desta Cidade, mas não nos omitiremos na reconquista de espaços para a população, espaços políticos de participação e espaços materiais no sentido de que nenhum logradouro público, nenhuma área de propriedade do Município seja entregue a particulares, terão de ter implementos públicos, com o auxílio da própria comunidade, mas para serem fruídos não por poucos, mas por todos. Nós achamos que Porto Alegre é como uma pessoa amada por todos nós que estamos aqui nas nossas diferenças ideológicas, partidárias.

A Administração Popular convoca a todos para participar desta 30ª Semana que ainda não terminou mas que conclui no dia 1° de abril. Temos ainda inúmeras atividades e uma delas, a que encerra as atividades desta semana é um baile popular, a céu aberto no Parque Farroupilha. Queremos encontrá-los todos lá com muita alegria e com muito prazer e enormes esperanças, e que possamos vencer as dificuldades e os desafios que estão colocados para todos nós, para que esta Cidade seja realmente uma Porto Alegre para todos. Construir Porto Alegre, do nosso ponto de vista, é provocar, estimular iniciativas de todos os segmentos da população e é também o governo realizar, como estamos realizando, mutirões para melhorar a Cidade, do ponto de vista da sua limpeza, do ponto de vista do transporte coletivo, do ponto de vista da educação, da saúde, valorizando as coisas simples, pequenas, para que elas sejam realizadas em conjunto. Construir a cidade é também ter projetos como o do Guaíba Vive, que temos a certeza não vai ser concluído por nós, porque este rio e este estuário de rio está tão agredido, e vem sendo agredido por tanto tempo, e quatro anos vai ser pouco tempo para recuperá-lo, mas nós não desistiremos de investir energias, recursos humanos, técnicos e materiais para que venhamos a recuperar aos poucos a balneabilidade do nosso rio, a potabilidade da sua água. Construir a Cidade é ter projetos também no sentido de que a administração pública não seja um elefante branco, um cabide de empregos, e que o companheiro seja estimulado a crescer na sua profissão, sem depender deste ou daquele partido, ou daquele dirigente, da administração ou de outro partido. Construir a Cidade é fazer com que a máquina pública tenha respostas eficazes para a população, sem distinguir ninguém, construir a Cidade é para nós também sonhar que um dia nós realmente acabaremos com as desigualdades; construir a Cidade é dizer que turismo para nós, por exemplo, não é apenas receber bem os que nos visitam de outras plagas, mas é proporcionar que o próprio porto-alegrense conheça a sua Cidade, porque, conhecendo-a, ajudará a transformá-la para melhor e a amará mais profundamente. E festejar a Cidade para nós é a cada momento, no sacrifício, na vitória e no desafio, compreender que tudo isto se resolve se a gente tiver a força da paixão por traz de cada ato nosso, a coerência e o entendimento de que nós não precisamos ser uniformes, nós precisamos construir a unidade na diversidade e na luta. Esta Cidade tem diversidades, tem muitas lutas na sua história, tem muitas lutas ainda a sua frente e tem um povo generoso do qual somos uma parte modesta. A alegria desse povo há de fazer com que festejemos bem a Cidade, não apenas na sua semana, mas em cada ato criativo, criador de todos nós para melhorar as condições de vida, dos irmãos nossos, dos nossos companheiros deste Porto. Queremos, em nome então da Administração Municipal, reforçar o convite, para as demais atividades desta semana, porque algumas delas inclusive serão permanentes, serão deflagradas agora mas serão realizadas todos os dias do ano em todos os anos que tivermos a responsabilidade de Administrar o Município. Atividades como as oficinas de arte como outras formas de descentralizar a política de cultura ou as atividades de organização da Administração. Nós temos a idéia firme de que os conselhos populares haverão de surgir, não porque queremos esta ou aquela estrutura de conselho popular fixada num Estatuto determinado de cima para baixo, nós temos certeza de que os conselhos populares serão formas qualificadas de organização do povo, no bairro ou num conjunto de bairro e que o próprio povo vai estabelecer as regras do funcionamento desse conselho, ou desses conselhos, que terão a sua coordenação eleita de forma direta pelos moradores do bairro, ou do conjunto de bairros que esse conselho representará. E esses conselhos haverão de definir prioridades de obras e serviços que a administração deverá executar e a administração deverá ser convocada ou ela mesma ter a iniciativa de chegar aos conselhos e expor a realidade das finanças da Prefeitura transparentemente e colocar à disposição da população as contas da prefeitura, a sua receita e a sua despesa e, em cima dessa realidade, sem mentira, sem ilusão, sem eleitorismo, e construindo esta Cidade com os passos firmes em cima da realidade, sem ilusões, mas com muita firmeza e com muita coerência. Eu acho que essa é uma contribuição séria e seriedade achamos que não é patrimônio exclusivo nosso, mas não abrimos mão da nossa seriedade e da nossa coerência. Sabemos que temos desafios; esta Cidade tem desafios; mas, com ela, nós, Administração Popular, temos sonhos, temos a nossa utopia, e esta Cidade há de ter, em nós, alguns dos que por ela se apaixonaram e que por ela farão tudo para que ela seja melhor e para que nela todos nós possamos viver bem e felizes. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Esta foi uma tarde muito boa, com declarações de amor, e não poderia ser diferente para a nossa Cidade. Gostaria de lembrar, com saudades, porque vejo que alguns Vereadores novos estão até surpresos com os pronunciamentos de hoje, pois no dia-a-dia é diferente, mas lembro o nome dos ex-Vereadores Aloísio Filho, Antônio Cândido, Valneri Antunes, Pessoa de Brum, Vereadores que eu, quando eleito em 1976, assumindo em 1977, numa oportunidade, Prefeito Olívio, no 1° Congresso Nacional de Vereadores, eu meio acanhado ainda, até um pouco surpreso com a eleição, fomos à Bahia acompanhados do então Ver. Ibsen Pinheiro. E o Ver. Aloísio Filho, com a sua experiência, entrou num restaurante e uma garçonete, vestida com trajes típicos da Bahia, quando veio nos atender ouviu do Ver. Aloísio Filho: “Dá um beijo aqui neste velhinho, mas não chega perto desses meninos.” Quero dizer com isso que nós todos vamos passar por aqui, como um Aloísio Filho, e a oportunidade vai chegar para vocês, jovens Vereadores, assim como chegou para mim que era jovem na época. Quero desejar ao Legislativo Municipal e ao Executivo Municipal que a cada minuto, a cada dia que passe sejam melhores, melhores e melhores para o bem comum da nossa Cidade, não importando a sigla partidária e sim o bem comum dos habitantes que são os nossos contribuintes.

Encerro, com essas palavras, cumprimentando a todos os companheiros e desejando muita saúde para que se possa trabalhar, se possível, as 24 horas do dia em prol da Cidade à qual declaramos o nosso amor e o nosso carinho.

Ao encerrarmos os trabalhos, agradecemos a presença de todos e convidamos para passarem ao Salão Nobre para apreciarem a exposição de poemas de Mário Quintana, ainda dentro das comemorações dos 217 anos. Estão levantados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h58min.)

 

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